Vivendo da Luz
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Giri Bala

Nascida em 1868 essa grande mulher yogi não se alimenta ou bebe líquidos desde 1880. O Yogi Paramhansa Yogananda na foto com ela, em 1936, em sua casa na isolada vila de Bengal Biur. Seu ato de não comer foi rigorosamente investigado por Maharaja de Burdwan. Ela aplica determinadas tecnicas de yoga para recarregar seu corpo com a energia Cósmica que Giri retira do ar e do sol. Lei em "Autobiography of a Yogi by Paramhansa Yogananda"

A história de Giri Bala foi contada para Yagananda quando ele se encontrou com ela. Na ocasião do encontro, ela já tinha a idade de 68 anos. Naquela época Giri já não comia ou bebia há mais de 56 anos. Ela ainda vive uma vida humilde em sua vila, foi dito que ela ganhou um palácio do lider de sua comunidade. Giri sempre foi mantida sob total vigilância e estudos. Existem menções de que ela é pura luz.

Com Yogananda ela dividiu sua história e disse que quando era criança tinha muita dificuldade em se alimentar e na idade de 9 anos, teve um sério problema de ingestão e desde então jurou que nunca mais colocaria nada em sua boca enquanto vivesse.

Numa grande devoção, ela rezou para que Deus lhe mandasse um Guru que pudesse lhe ensinar como viver apenas da Luz Divina. Foi então que um Guru se materializou diante dela e ela pode iniciar a arte de uma específica tecnica Yoga chamada Kria, que liberta o corpo das necessidades de substâncias físicas.

O Guru lhe disse 'Minha pequena, eu sou o guru que Deus lhe enviou para atender as suas preces de urgência. Ele foi tocado pelas suas orações e vontade de viver da luz. De hoje em diante você poderá viver da Luz divina. Os átomos de seu corpo serão recarregados pela fonte do infinito poder."

Desde aquele dia ela nunca mais se alimentou fisicamente. Yogananda disse que "ela ganhou a autoridade em provar que o ser humano é verdadeiramente espírito, ela também é a prova viva de que o ser humando pode viver apenas da Eterna Luz de Deus."

Texto tirado dos trabalhos de Dr. Joshua David Stone's"Forty of the Worlds Great Saints and Spiritual Masters".


Paramhansa Yogananda: Autobiography of a YogiAutobiografia de um Yogi

by Paramhansa Yogananda

(Edição Original de 1946 Primeira Edição)

Capítulo: 46

A mulher iogue que nunca se alimenta

Senhor, para onde vamos esta manhã? - Dirigindo o Ford, o sr. Wright desviou os olhos da estrada o tempo suficiente para me encarar com uma cintilação interrogativa. Ele raramente sabia, de véspera, qual a próxima região de Bengala a descobrir.

- Se Deus quiser - repliquei com devoção - nosso caminho nos levará a conhecer uma oitava maravilha do mundo: uma santa mulher cujo único alimento é o ar puro!

- Os assombros se repetem, depois de Teresa Neumann. - Mes-mo assim, o sr. Wright teve um riso ansioso; até acelerou a velocidade do carro. Mais trigo excepcional para o seu moinho; para o seu diário de viagem. O seu não era o de um turista vulgar!'

Acabávamos de deixar para trás a escola de Ranchi; havíamos levantado antes do nascer do sol. Além de meu secretário e de mim, mais três amigos bengalis compunham a comitiva. Sorvemos o ar revigorante, o vinho natural da manhã. Nosso motorista guiava o automóvel com todo o cuidado, entre camponeses madrugadores e carretas de duas rodas, lentamente puxadas por zebus sob a canga, tesolvidos a disputar a estrada a um intruso, provido de buzina.

- Senhor, gostaríamos de saber mais a respeito da santa que jejua.

- Seu nome é Gíri Bala - informei aos meus companheiros.

Ouvi referências a ela, pela primeira vez, há anos atrás, de um amável erudito, Sthiti Lal Nundy. Ele vinha com freqüência à nossa cosa de Gurpar Road para dar lições particulares a meu irmão Bishnu. Disse-me Sthiti Babú: "Conheço Gíri Bala muito bem. Ela usa certa técnica iogue, que lhe permite viver sem alimento. Fui seu vizinho em Nawabganj, perto de Ichapur1. Decidi vigiá-la de perto e nunca tive provas de que ingerisse comida ou bebesse. Meu interesse cresceu a tal ponto que procurei o Marajá de Burdwan2 e pedi-lhe que realizasse uma investigação. Espantado com a história, ele a convidou a ir até o seu palácio. Ela concordou em submeter-se a uma prova. e viveu dois meses fechada num pequeno retiro da residência do marajá. Posteriormente, voltou ao palácio para uma permanência de vinte dias; e, a seguir, para uma terceira prova, de quinze dias. O próprio marajá declarou-me que os três exames rigorosos o convenceram, acima de qualquer dúvida, de que ela jamais comia."

E concluí: - Esta história de Sthiti Babú permaneceu em minha mente por mais de vinte e cinco anos. Algumas vezes, nos Estados Unidos, eu me indagava se o rio do tempo não tragaria a yógíni3 antes que eu a pudesse encontrar. Agora, deve ser bem idosa. Ainda não sei onde ela vive, nem se vive. Mas, dentro de poucas horas, chegaremos a Purulia; o irmão de Gíri Bala tem uma casa ali.

Às dez e meia, nosso pequeno grupo conversava com esse irmão, Lambodar Dey, advogado em Purulía.

- Sim, minha irmã ainda vive. Às vezes, ela se demora comigo, aqui, mas neste momento se encontra no lar de nossa família, em Biur. - Lambodar Babú lançou um olhar duvidoso ao Ford. - Penso, Swâmiji, que jamais qualquer automóvel se aventurou até um lugar interiorano tão remoto como Biur. Seria melhor se todos se resignassem aos solavancos de uma carreta de bois.

Nosso grupo, em uníssono, jurou manter-se fiel ao Orgulho de Detroit.

- O Ford vem dos Estados Unidos - disse eu ao advogado. - Seria uma vergonha privá-lo da oportunidade de travar relações com o coração de Bengala!

- Que Ganesh4 os acompanhe! - disse Lambodar Babú, com uma risada. E acrescentou cortesmente: - Se chegarem até lá, estou certo de que sua visita será um prazer para Gíri Bala. Ela conta quase setenta anos, mas conserva excelente saúde.

- Diga-me, por obséquio, senhor, se é absolutamente verdade que ela de nada se alimenta? - Encarei-o diretamente nos olhos, essas indiscretas janelas da alma.

- É verdade. - Seu olhar era franco e leal. - Durante mais de cinco décadas, nunca a vi provar a menor migalha. Se chegasse, de repente, o fim do mundo, eu não ficaria tão surpreendido como se visse minha irmã ingerindo alimento.

A risada foi geral, devido à improbabilidade destes dois aconte-cimentos cósmicos.

- Gíri Bala nunca procurou a solidão inacessível para suas prá-ticas de ioga - continuou Lambodar Babú. - Sua vida inteira vem transcorrendo no convívio de seus familiares e amigos. Todos estão agora perfeitamente acostumados às estranhas condições em que ela vive. Qualquer um deles ficaria estupefacto se Gíri Bala subitamente resolvesse comer! Minha irmã vive em discreto retiro, como convém a uma viúva hindu, mas nosso pequeno círculo em Purulia e Biur sabe que ela é, literalmente, uma "mulher excepcional".

A sinceridade do irmão era evidente. Nosso pequeno grupo agra-deceu-lhe calorosamente e partiu para Biur. Paramos numa loja para comprar luchis e caril, atraindo assim um enxame de garotos que cir-cundou o sr. Wright para vê-lo comer com os dedos, à maneira simples dos indianos5. Um exigente apetite nos revigorou para a jornada da tarde; sem que o suspeitássemos naquele momento, ela viria a ser bastante penosa.

Nosso caminho agora, em direção leste, cruzando arrozais quei-mados pelo sol, levava à zona Burdwan de Bengala. Prosseguíamos por estradas abertas na vegetação densa; as canções de rnaynas e bulbus6, de pescoço listado, partiam de árvores cujas ramagens se pareciam a enormes guarda-sóis. De vez em quando, topávamos uma carreta de bois; o chiante "rim-rim"do eixo, e das rodas de madeira com aros de ferro, contrastava em nossas mentes, de forma nítida, com o deslizar dos pneus no asfalto aristocrático das cidades.

- Dick, pare - Meu súbito pedido resultou num solavanco de protesto do Ford. - Essa mangueira carregada de frutos está gritando um convite perfeito!.

Como meninos, corremos os cinco para o terreno coberto de man-gas; a árvore desprendera prodigamente os seus frutos à medida que se tornavam maduros.

- Muita mangueira nasce para não ser vista - parafraseei - e para desperdiçar sua doçura no chão de pedras.

- Nada igual a isto nos Estados Unidos, hein, Swâmiji? - disse, rindo, Sailesh Mazumdar, um de meus estudantes bengalis.

- Não - admiti, repleto de mangas e de contentamento. - Que falta senti desta fruta no Ocidente! Sem mangas, o paraíso para o hindu é inconcebível!

Atirei uma pedra, fazendo despencar uma beldade orgulhosa do ramo mais alto.

- Dick - perguntei, entre nacos de ambrosia aquecida ao sol tropical - todas as máquinas fotográficas estão no carro?

- Sim, senhor, no porta-malas.

- Se Gíri Bala provar que é uma verdadeira santa, quero escrever a respeito dela no Ocidente. Uma yógini hindu, com poderes tão inspiradores, não deveria viver e morrer desconhecida - como a maioria destas mangas.

Meia hora mais tarde, eu ainda vagava naquela paz silvestre.

- Senhor - observou o sr. Wright - devemos alcançar Gíri Bala antes do poente, a fim de ter luz bastante para as fotografias.

- Ele acrescentou com um sorriso malicioso: - Os ocidentais são um lote de céticos; sem fotos, não se convencem!

Esta pontinha de sabedoria era indiscutível; dei as costas à tenta-ção e entrei de novo no carro.

Você está com a razão, Dick, - suspirei, enquanto avançávamos - sacrifico o paraíso de mangas no altar do realismo ocidental. Temos de conseguir fotografias!

A estrada se tornou gradativamente mais doentia: rugas na trilha das carretas, tumores de barro endurecido - as tristes enfermidades da velhice. Nosso grupo descia do carro, às vezes, para permitir ao sr. Wright manobrar mais facilmente o Ford, enquanto nós empur-rávamos por trás.

- Lambodar Babú disse a verdade - reconheceu Sailesh. - O automóvel não nos transporta; nós é que o transportamos.

Entrar e sair do carro já se tornava monótono, mas nosso tédio se amenizava, de vez em quando, com o aparecimento de uma aldeia, cada uma constituindo um cenário de fantástica simplicidade.

"Nosso caminho se torcia e se recurvava, cruzando bosques de palmeiras entre vilarejos antigos e intactos, aninhados à sombra da floresta - registrou o sr. Wright em seu diário de viagem, em 5 de maio de 1936. - Extremamente fascinantes são estes aglomerados de choupanas de barro e tetos de sapé, com um dos nomes de Deus pintado sobre a porta; muitas criancinhas nuas, brincando inocentemente detinham-se para arregalar os olhos ou fugir selvagemente desta car-ruagem enorme, preta e sem bois, que cortava, alucinada, a sua aldeia. As mulheres simplesmente espiavam das sombras, enquanto os homens se refestelavam preguiçosamente sob as árvores, à margem do caminho, irias aparentando indiferença. Em certo vilarejo, todos os habitantes tomavam banho alegremente num grande tanque (vestidos, substituin-do depois os trajes úmidos por outros secos que pregueavam em redor de seus corpos). As mulheres carregavam água para suas casas em enormes jarras de latão.

"A estrada nos conduzia por montes e regos, como em divertida caçada; fomos sacudidos em todas as direções, mergulhamos em peque-nos arroios; obrigamo-nos a seguir por variantes devido a uma estrada pavimentada ainda por terminar; deslizamos por leitos de rios secos e areno-sos; e finalmente, quase às cinco horas da tarde, nos aproximamos de nosso destino: Biur. Esta diminuta aldeia no interior do distrito de Balcura, escondida sob a proteção de densa folhagem, é inacessível aos viajantes na estação das chuvas, segundo nos disseram; então, os riachos são torrentes furiosas e as estradas assemelham-se a serpentes cuspindo o seu veneno, a lama.

"Pedindo um guia a um grupo de devotos, que voltava para casa após as orações no templo (fora, no campo sem casas), fomos assedia-dos por uma dúzia os garotos escassamente vestidos, que treparam de ambos os lados do veículo, ansiosos de nos conduzirem à casa de Gíri Bala.

"O caminho levava a um bosque de tamareiras abrigando um grupo de choças de barro, mas antes de alcançá-lo, o Ford inclinou-se momentaneamente em ângulo perigoso, arremessou-se para o alto e voltou ao chão. A estreita trilha, volteando árvores e uma cisterna, conduziu-nos por sobre regos a buracos e sulcos profundos. O carro estacou em uma moita de arbustos; a seguir, encalhou numa pequena elevação de terreno, obrigando-nos a remover parte da terra. Conti-nuamos, lentamente, com toda a precaução. De súbito, a estradinha foi interrompida por uma capoeira, no meio da trilha carroçável, sendo necessário um desvio descendente à beira de um precipício que ia terminar num tanque seco, do qual nos livramos com algum trabalho de sapa. Repetidas vezes, o caminho nos pareceu intransitável, mas ô peregrinação devia continuar; garotos serviçais iam buscar pás e demoliam os obstáculos (bênçãos de Ganesh! ), enquanto centenas de crianças e pais nos olhavam com assombro.

"Prosseguíamos, logo, penosamente, a nossa rota, ao longo dos dois antiquíssimos sulcos de carretas; as mulheres nos observavam com olhos muito arregalados, das portas de suas choupanas; os homens seguiam em nosso rastro, de ambos os lados e por trás de nós; e as crianças corriam para aumentar a procissão, o nosso foi talvez o primeiro automóvel a transitar por estas paragens; o "Sindicato dos Trans-portadores em Carretas de Boi" deve ser onipotente aqui! Que im-pressão sensacional causávamos nós - um grupo de viajantes com um motorista americano, pioneiros montados num veículo resfolegante, irrompendo diretamente na praça principal de sua aldeia e invadindo seu antigo isolamento e santidade!

"Detivemo-nos numa viela estreita, a uns trinta metros do lar ancestral de Gíri Bala. Sentíamos a emoção do sucesso, após a longa luta com a estrada, coroada por um último trecho, brutal. Acercamo-nos de um grande edifício de tijolos e estuque, com um andar superior, dominando as choças de adobe circunvizinhas; a casa estava passando por consertos, pois em torno dela se via o característico andaime tropical de bambus.
"Com febril esperança e reprimido júbilo, estacamos ante as portas abertas; ali vivia a criatura abençoada pelo Senhor com o sinal dos que não têm fome. Constantemente boquiabertos se mostravam os habitantes da aldeia, jovens e velhos, nus e vestidos - as mulheres, um pouco à distância, mas também interrogativas - homens e me-ninos, sem nenhum rubor, colados aos nossos tornozelos, enquanto seus olhos fixavam o espetáculo sem precedentes.

"Uma figura baixa logo surgiu no vão da porta - Gíri Bala! Envolvia-se num traje de seda cor-de-ouro baço; segundo o costume tipicamente hindu, ela avançou, espiando-nos com modéstia e hesitação por sob a dobra superior do manto de swadéshi que lhe cobria a cabeça. Seus olhos reluziam como brasas queimando sem chama, por entre as Sombras da mantilha; cativou-nos seu rosto de benevolência e auto-rea-lização, livre da mácula do apego terrestre.

"Ela se aproximou mansamente e concordou em silêncio com o nosso pedido de fotografá-la e filmá-la várias vezes com nossas câma-ras7. Paciente e tímida, ela suportou nossas técnicas fotográficas, de ajuste e posição e de arranjos de luz. Por fim, tínhamos guardado, 1)ara a posteridade, muitas imagens da única mulher no mundo que se sabe ter vivido sem comer nem beber por mais de cinqüenta anos (Teresa Neumann, naturalmente, jejua desde 1923). Muito maternal era a expressão de Gíri Bala, ao permanecer diante de nós, inteira-mente coberta por sua vestimenta solta e flutuante, sem que nada se visse de seu corpo a não ser a face de olhos baixos, as mãos e os pe-quenos pés. Um rosto de paz invulgar e de inocente equilíbrio - lábios largos, trêmulos, infantis, um nariz feminino, olhos estreitos e reluzentes, e um sorriso pensativo."

Compartilhei das impressões do sr. Wright sobre Gíri Bala; a espiritualidade a envolvia toda, semelhante ao seu véu de suave brilho. Ela fez o gesto de prônam diante de mim, conforme a tradicional sau-dação de uma dona de casa a um monge. Seu encanto simples e sor-riso quieto deram-nos uma acolhida superior à oratória melíflua; es-quecida ficou a nossa difícil viagem sob a poeira.

A diminuta santa sentou-se de pernas cruzadas na varanda. Embora demonstrasse os sinais da idade, não tinha aspecto macilento; a pele cor-de-oliva conservava sua tradicional tonalidade pura e saudável.

- Mãe - disse eu, em bengali - durante mais de vinte e cinco anos pensei com ansiedade nesta verdadeira peregrinação! Quem me referiu sua vida sagrada foi Sthiti Lal Nundy Babú.

Ela acenou com a cabeça, em sinal de reconhecimento: - Sim, bom vizinho em Nawabgani.

- Atravessei o oceano e estive longe durante muitos anos, mas nunca esqueci meu plano de vê-la, um dia. O drama sublime que a senhora está representando tão imperceptivelmente deveria ser proclamado a um mundo que há longo tempo esqueceu o divino alimento interior.

Por um instante, a santa ergueu os olhos, sorrindo com sereno interesse.

- Babá (Venerado Pai) sabe o que é melhor - respondeu ela, humildemente.

Fiquei contente por ela não ter recebido minha sugestão como uma ofensa; ninguém jamais como os iogues e as ióguines reagirão à idéia de publicidade. Em regra, eles a evitam, desejosos de prosseguir em silêncio a profunda investigação da alma. Uma autorização interna, quando chega a hora, lhes permite exibir suas vidas abertamente, em benefício das mentes que buscam a verdade.

- Mãe - continuei - perdoe-me, então, por sobrecarregá-la com tantas perguntas. Por favor, responda somente às que lhe agra-darem; compreenderei seu silêncio também.

Ela estendeu as mãos em gesto gracioso: - Responderei com prazer, na medida em que uma pessoa, insignificante como eu, possa dar respostas satisfatórias.

- Oh, não, insignificante não! - protestei sinceramente. - A senhora é uma grande alma.

- Sou a humilde serva de todos - E fantasticamente, ela acres-centou: - Gosto de cozinhar e de alimentar os outros.

"Passatempo estranho - pensei eu - para uma santa que não come! "

- Que seus próprios lábios me digam, Mãe: é verdade que vive sem nenhum alimento?

- É verdade. - Ela se manteve silenciosa por alguns instantes; seu próximo comentário indicava que estivera lutando com o cálculo mental. - Desde a idade de doze anos e quatro meses até minha idade atual de sessenta e oito (um período superior a cinqüenta anos), -não ingeri alimento nem tomei líquidos.

- Não sente a tentação de comer?

- Se eu sentisse necessidade de alimentos, teria de comer. - Ela afirmou com simplicidade e, não obstante, com uma classe régia, esta verdade axiomática conhecida num mundo que gira em torno de três refeições por dia!

- Mas a senhora se alimenta de alguma coisa! - Havia em meu tom de voz uma objeção.

Entendendo imediatamente, ela sorriu: - Sem dúvida!

- Sua nutrição provém das energias sutis do ar e da luz solar8 e do poder cósmico que reabastece seu corpo através do bulbo raquiano.

- Babá sabe. - Ela novamente concordou, em sua maneira de ser suave e sem ênfase.

- Mãe, por favor, conte-me algo de sua vida, de seus primeiros anos. Ela tem profundo interesse para todos na índia e até para nossos irmãos e irmãs além dos mares.

Gíri Bala pôs de lado sua habitual reserva, mitigando a tensão com uma conversa informal.

- Assim seja. - Sua voz era baixa e firme. - Nasci nesta região -de florestas. Minha infância nada teve de excepcional, a não ser a aberração de um apetite insaciável. Meu noivado ocorreu aos nove anos de idade. "Filha", advertia minha mãe freqüentemente, "trate de controlar sua voracidade. Quando chegar o tempo de viver entre estranhos, em casa da família de seu marido, que pensarão de você, quando a virem comendo sem parar? "

"A calamidade que ela previra, aconteceu. Eu tinha apenas doze anos quando me reuni à família de meu marido em Nawabganj. De manhã, à tarde, e à noite, minha sogra me humilhava para que eu sen-tisse vegonha de meus hábitos de gula. Suas repreensões foram, po-rém, urna bênção disfarçada; despertaram minhas tendências espirituais 2dormecidas. Certa manhã, ela foi impiedosa em sua tarefa de ridi-cularizar-me.

"- Nunca mais comerei enquanto viver - disse eu, sentindo a ferroada até a medula - e lhe darei provas em breve.

"- Ah, é? - Minha sogra riu-se com menosprezo. -- Como pode viver sem alimentação quem não pode viver sem superalimentação?

"Este comentário era irrefutável! Contudo, uma resolução de aço apoderara-se de meu coração. Em lugar solitário, procurei meu Pai Celestial. Rezei incessantemente: Senhor, eu Te suplico, envia-me um guru, alguém que possa ensinar-me a viver de Tua luz e não de ali-mentos.

"Um êxtase me acometeu. Sob um encantamento beatífico, parti para o ghat de Nawabganj, no Ganges. Em caminho, encontrei o sacerdote da família de meu marido.

Venerável senhor - disse eu confiantemente - diga-me, por favor, como poderei viver sem comida.

"Ele demorou os olhos em mim, sem responder. E afinal falou, consoladoramente: - Filha, venha ao templo hoje à noite. Oficiarei uma cerimônia védica especialmente em sua intenção.

"Esta resposta indefinida não era a que eu procurava; continuei a andar em direção ao ghat. O sol matutino perfurava as águas; purifi-quei-me, como se fosse para uma iniciação sagrada. Ao me afastar da margem do rio, de roupa molhada sobre o corpo, à luz clara do dia, vi meu mestre materializar-se diante de mim!

"- Minha querida pequena - disse ele com voz de amorosa compaixão - sou o guru enviado por Deus para satisfazer sua prece urgente. Ele ficou profundamente comovido com a essência invulgar dessa prece! De hoje em diante, você viverá da luz astral; os átomos de seu corpo se reabastecerão de carga na corrente infinita."

Gíri Bala silenciou. Tomei o lápis e o bloco de apontamentos do sr. Wright e traduzi para o inglês alguns trechos de minha conversa a fim de informá-lo.

A santa reatou a conversação, com voz suave, quase inaudível. "O ghat achava-se deserto, mas meu guru lançou em torno de nós uma aura de luz protetora, para que nenhum banhista vagando por ali nos viesse molestar. Ele me iniciou numa técnica de kria que liberta o corpo cia dependência para com a grosseira alimentação dos mortais. A téc-nica inclui o uso de certo mantra9 e um exercício respiratório mais difícil que os realizáveis por uma pessoa comum. Não implica magia nem drogas medicinais; nada além de kria.

Imitando o repórter de um jornal norte-americano que, sem per-ceber, me ensinou sua arte, interroguei Gíri Bala sobre muitos assun-tos que, pensei, seriam de interesse para o mundo. Ela me deu, fra-cionadamente, as seguintes informações:

Nunca tive filhos; há muitos anos atrás, fiquei viúva. Durmo pouquíssimo, já que sono e vigília são iguais para mim. Medito à noite, cumprindo meus deveres domésticos durante o dia. Sinto ligei-ramente a mudança de clima de uma estação para a outra. Nunca estive doente nem sofri jamais qualquer doença. Sinto apenas uma leve dor quando sou ferida acidentalmente. Não tenho excreções físi-cas. Posso controlar as batidas de meu coração e minha respiração. Contemplo freqüentemente em visões, meu guru e outras grandes almas.

- Mãe - perguntei-lhe - por que não ensina a outros o mé-todo de viver sem alimento?

Minhas ambiciosas esperanças foram destruídas no mesmo instan-te, embora eu pensasse nos milhões de famintos que há no mundo.

- Não - ela abanou a cabeça. - Recebi ordens estritas de meu guru para não divulgar o segredo. Ele não pretende intrometer-se rio drama divino da criação. Os agricultores não me agradeceriam se eu ensinasse muita gente a viver sem alimentos! As frutas deliciosas Jazeriam no solo, sem mais utilidade. Parece que a miséria, a inanição t, a doença são chicotes de nosso carma que nos impelem, por fim, a buscar o verdadeiro significado da vida.

- Mãe - disse eu, lentamente - que adianta então, que utili-dade há nisto, em ter sido eleita para viver sem alimentar,

- Provar que o homem é Espírito. - Seu rosto iluminou-se de sabedoria. Demonstrar que, pelo adiantamento na senda de Deus, o homem pode gradualmente aprender a viver da Luz Eterna e não da comida10.

A santa entrou em profundo estado meditativo. Seu olhar diri-giu-se para cima: a suave profundeza de seus olhos tornou-se inexpres-siva. Ela exalou um certo suspiro, prelúdio do transe extático, isento de respiração. Por algum tempo, voara ao reino onde não existem per-guntas, ao paraíso da beatitude interior!

A escuridão tropical descera. A luz de uma lâmpada de querosene bruxuleava com intermitência sobre as cabeças de muitos camponeses que se haviam sentado de pernas cruzadas, silenciosamente, nas som-bras. Coriscantes vaga-lumes e remotas lâmpadas a óleo das choças teciam rútilos e caprichosos arabescos na noite de veludo. Soava o momento doloroso da partida; uma jornada lenta, tediosa, era a pers-pectiva do pequeno grupo.

- Gíri Bala - disse eu quando a santa abriu os olhos - dê-me, por favor, uma lembrança: uma pequena tira de um de seus sarís.

Logo ela voltou com um sarí de seda de Benares, oferecendo-a com a mão, enquanto se prostrava repentinamente no solo.

- Mãe - disse eu com reverência - permita-me, com mais razão, tocar os seus pés sagrados!

1Em Bengala do norte.
2 Sua Santidade Sir Bijay Chand Mahtab, já falecido. Sua família possui, se-dúvida, algun~ registro das três investigações do Marajá a respeito de Gíri Bala.
3 Mulher iogue
4 "Removedor de obstáculos", o deus da boa sorte.
5 Sri Yuktéswar costumava dizer: "O Senhor nos deu os frutos da boa terra. Gostamos de ver nossa comida, cheirá-la e saboreá-la - o hindu gosta de apalpá-la também!"E, se ninguém mais está presente à refeição, não nos desgosta ouvi-Ia!
6 Aves canoras da Ásia. O bulbul é o rouxinol oriental.
7 0 sr. Wright filmou também Sti Yuktésmar durante seu último Festival de Solstício de Inverno, em Serampore.
8"0 que comemos é radiação; nosso alimento equivale a determinados quanta de energia", disse o dr. George W. Crile, de Cleveland, numa reunião de médicos em Mênfis, em 17 de maio de 1933. Seguem-se trechos de seu discurso: "Os raios do sol fornecem esta radiação importantíssima aos ali-mentos e estes cedem correntes elétricas ao sistema nervoso, ou seja, ao circuito elétrico do corpo. Os átomos são sistemas solares. São veículos túr-gidos de radiação solar, semelhantes a molas em espiral a que se deu corda ou tensão. Ingerimos, sob a forma de alimentos, estes átomos inumeráveis, repletos de energia. Uma vez no corpo humano, estes caminhões abarrota-dos, veículos tensos, os átomos, são descarregados no protoplasma do orga-nismo, fornecendo-lhe nova energia química, novas correntes elétricas. Todo o nosso corpo é construído por esses átomos: músculos, cérebro e órgãos sensoriais (olhos, ouvidos, etc.)". Algum dia, os cientistas descobrirão co-mo pode o homem viver diretamente da luz solar. Escreve o dr, William 1.. Lamence, no New York Times: "A clorofila é a única substância na natu-reza que possui, de algum modo, o poder de agir como armadilha da luz solar. Ela aprisiona a energia do sol, armazenando-a na planta. Sem ;sto, vi-da nenhuma poderia existir. A energia de que precisamos para viver, obtê-mo-Ia da energia solar armazenada na planta que cornemos ou na carne dos animais que comem as plantas. Hoje retiramos do carvão ou do petróleo a energia solar aprisionada na clorofila dos vegetais que viveram há milhõe, de anos atrás. Vivemos do sol, por intermédio da cloroffia".
9Poderoso canto vibratótio. A tradução literal do sânscrito rnantra é "insiro- mento do pensamento", Significa "sons ideais, inaudíveis, que representam um aspecto da criação; quando vocalizado em sílabas, um mantra constitui uma terminologia universaU. (Novo Dicionário Internacional de Webster, 2.' edição). Os poderes, infinitos do som derivam de Aurri, o "Verbo- ou zumbido criador do Motor Cósmico.
100 estado que dispensa alimento, atingido por Gírí Bala, é um poder iogue mencionado nos Yoga Sutras 3:31, de Patânjali. Ela emprega certo exercí-cio respiratório que afeta o chákra visudha, o quinto centro de energias sutis localizado na espinha. 0 chákra visudha, oposto à garganta, controla o quinto elemento, akash ou éter, infiltrado nos espaços intra-atômicos das células orgânicas. A concentração neste chákra ("roda") capacita o devoto a viver da energia etérica,

Teresa Neumann nem vive de alimento denso, nem pratica uma técnica iogue científica que a dispense de comer. A explicação oculta-se nas com-plexidades do carma pessoal. Muitas vidas de dedicação a Deus escondem-se atrás de uma Teresa Neumann ou de uma Gíri Bala, mas seus canais de ex-teriorização diferem. Entre os santos cristãos que viveram sem comer (apre-sentavam também os estigmas) destacam-se: Santa Lidwina de Schiedam, a Bem-aventurada Elisabeth de Rent, Santa Catarina de Siena, Dominica La-zarri, a Bem-aventurada ngela de Foligno e Louise Lateau, esta do século 19. São Nicolau de Flue (o irmão Klaus, eremita do século 15, cuja sú-plica apaixonada em favor da união salvou a Confederação Suíça) absteve-se de alimento durante vinte anos.